Música e Conflito: a Superação do Trauma através da obra de Arte em Cândido Lima e Iannis Xenakis

Palavras-chave: Cândido Lima, Iannis Xenakis, Guerra Colonial, II Guerra Mundial, Memórias de Guerra, Superação

Resumo

Sabendo que Cândido Lima vive a realidade da Guerra Colonial e Iannis Xenakis, a da II Guerra Mundial, pretendemos mostrar de que forma algumas das suas obras revelam, nos seus conteúdos técnicos, estéticos e imagísticos, a influência destas vivências, bem como a superação de traumas e conflitos. No caso de Cândido Lima, a sua permanência no continente africano, na Guiné-Bissau, permitiu-lhe o contato com uma outra realidade musical, tanto na sua vertente criativa como interpretativa. A proliferação de manifestações sonoras, a riqueza rítmica, harmónica e melódica que apresentam, deslumbra o compositor. O próprio assume esta e outras influências, nomeadamente a de Iannis Xenakis. Neste sentido, os títulos que empresta às suas criações, de que são exemplo Nô, African Rhytms, Ritos de África, Missa Mandinga, Ncàãncôa ou Nanghê, mostram um universo imbuído de conteúdos imagísticos onde as estruturas sonoras que desenvolve retratam África e a Guerra Colonial. No caso de Iannis Xenakis, a superação do conflito e do trauma faz-se na contínua superação de si, bem como na exigência técnica, interpretativa e expressiva que impõe aos seus intérpretes. A arte surgindo como meio de se alienar dos traumas e conflitos de uma vida de superação.
Neste texto, mostraremos de que forma os universos português (minhoto) e africano (guineense), concorrem para a realização de um universo imagético-sonoro singular na obra musical do compositor português Cândido Lima, bem como os universos greco-francês (científico, filosófico e cultural) e bélico (II Guerra Mundial e Resistência), se encontram presentes na obra de Iannis Xenakis. Mostraremos também como os compositores intentam superar o conflito e o trauma que da vivência de uma guerra resulta, através da criação artística, e da conceção de um conjunto de obras musicais de inegável valor artístico, estético e musical.

Referências

Azevedo, S. (2002). Cândido Lima: vers une Gesamtkunstwerk? Ensaio quasi una fantasia. Cândido Lima. Porto: Atelier de Composição.

Candé, R. (1981). Une esthétique de la raison et de la libertá. Regards sur Iannis Xenakis (pp. 26-29). Paris: Éditions Stock.

Fati, S. (2021). Início da Luta de Libertação Nacional 1963: Uma Visão Guineense. Revista Portuguesa de História Militar. Ano 1. N.º 1. URL: https://www.defesa.gov.pt/pt/defesa/organizacao/comissoes/cphm/rphm/edicoes/ano1/n12021/visaoguine

Halbreich, H. (2001). Iannis Xenakis: um loup parmi les chiens. Portrait(s) de Iannis Xenakis sous la direction de François-Bernard Mâche. Paris: Bibliothéque Nationale de France.

Lima, C. (2003). Origens e Segredos da Música Portuguesa Contemporânea. Música em Som e Imagem. Porto: Instituto Politécnico do Porto.

Mâche, Fr.-B. (2001). Iannis Xenakis en son temps. Portrait(s) de Iannis Xenakis sous la direction de François-Bernard Mâche. Paris: Bibliothéque Nationale de France.

Matossian, N. (1981). Iannis Xenakis. Coleção “Musiciens d’aujourd’hui”. Paris: Fayard/Fondation Sacem.

Matossian, N. (1981). L’artisan de la nature. Regards sur Iannis Xenakis (pp. 44-51). Paris: Éditions Stock.

Messiaen, O. (2001). Discours de reception à l’Institut de France Mercredi 2 mai 1984. Portrait(s) de Iannis Xenakis sous la direction de François-Bernard Mâche. Paris: Bibliothéque Nationale de France.

O’Connell, J. M. & Castelo-Branco, S. (2010). Music and Conflict. Urbana, Chicago / Springfield: University of Illinois Press.

Solomos, M. (2001). Sculpter le son. Portrait(s) de Iannis Xenakis sous la direction de François-Bernard Mâche. Paris: Bibliothéque Nationale de France.

Xenakis, Fr. (2001). Ce que je sais de lui. Portrait(s) de Iannis Xenakis sous la direction de François-Bernard Mâche. Paris: Bibliothéque nationale de France.

Xenakis, I. (1963). Musiques Formelles. Paris: Richard-Masse.

Publicado
2023-11-17