O rigor geométrico da épica: “L’Iliade ou le poème de la force”, de Simone Weil

Palavras-chave: Simone Weil, Épica, Desgraça, Força, Poética, Geometria

Resumo

Este artigo trata de indagar sobre a hipótese do pensamento poético na obra de Simone Weil, especialmente a partir da leitura – e tradução – dos poemas clássicos gregos (Electra, Antígona, Ilíada). Enquanto esta possibilidade não provém propriamente da teoria da literatura, temos de procurar o seu esclarecimento poético em torno das preocupações de caráter sindical que, sobre o trabalho proletariado, a pensadora francesa vinculou com certa decadência dos valores numa sociedade capitalizada. A crise duma ordem social resulta em Weil também uma crise dos ideais, portanto da moral, assunto fundamental no pólemos épico – a guerra – e nas tragédias dos poemas gregos. Neste sentido, a sua aproximação à é épica através do trabalho “L’Iliade ou le poème de la force” (1941) revela, para além dum sentido histórico e político – como interpretara por sua vez Hannah Arendt –, uma outra ligação entre os âmbitos poéticos e os éticos. Precisamente Weil descobre neste nexo uma peculiar sensibilidade estética, quando coloca a mimese aristotélica como correlato poético duma outra forma de representação do pensamento grego arcaico: a geometria. Deste modo, no poema homérico convergem virtuosamente a proporção das ações com a mesura mais ou menos ética dos heróis gregos, uma representação que politicamente subscreve uma igualdade exemplar, como se o mito se mantivesse em equilíbrio ainda na tekné do logos poético, dum kósmos que ordena a história da humanidade. Weil formula, então, uma espécie de hermenêutica consoante a uma geometria das paixões poéticas, nomeadamente focada na conceição da força.

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Publicado
2023-11-17