Poéticas do conto em “Manhã perdida” e A bicicleta que tinha bigodes

  • Ana Ribeiro Universidade do Minho
Palavras-chave: conto, estória, metaconto, João de Araújo Correia, Ondjaki

Resumo

À primeira vista, “Manhã perdida”, conto de João de Araújo Correia incluído em Folhas de xisto (1959), pouco parece ter em comum com A bicicleta que tinha bigodes (2011), estória da autoria de Ondjaki: são textos classificados de forma distinta, pertencentes a autores de épocas e literaturas diferentes, com mundividências diversas. No entanto, ambos os textos partilham uma dimensão metanarrativa de que nos iremos ocupar, já que os dois giram em torno da questão de como se cria um conto/uma estória: estimulados por um concurso literário, quer o Dr. Ivinho do conto, quer o narrador do livro mais recente, recorrem à ajuda de um escritor encartado para se habilitarem ao apetecido prémio (cinco contos e uma bicicleta, respetivamente). É sobre esta figura do escritor de renome que nos deteremos inicialmente, elencando elementos do seu retrato, em particular aqueles em que assenta a autoridade que lhe é reconhecida. A motivação de ambos os candidatos, bem como o facto de um e outro procurarem a ajuda de um mestre, indicia que escrever uma história envolve mais do que uma simples aptidão natural e implica uma certa aprendizagem. Assim, será importante verificar se o magistério do escritor experimentado surte efeito. A sua atuação e as inquietações dos seus discípulos permitirão ainda identificar as características que ambas as narrativas atribuem ao conto/à estória e as técnicas apontadas para a sua criação.

Publicado
2019-02-22