O Líquido Retrato de Narciso: a identidade fragmentada de Dorian Gray

  • José Vieira Centro de Literatura Portuguesa (UC), Instituto de Filosofia (UP)
Palavras-chave: Dorian Gray, Narciso, Zygmunt Bauman, Crise da Identidade, Fragmentação do Sujeito, Duplo

Resumo

Publicado em 1890 por Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray surge como a obra maior do fic- cionista irlandês. Para além da reflexão em torno das relações humanas, do amor, do ódio e da manipulação, a obra de Wilde realça outros aspetos e temas que muito anteveem e pressentem a crise do sujeito unitário que assolou as correntes literárias da passagem do século XIX para o século XX, tendo a sua manifestação máxima no Modernismo e nas Vanguardas.

A nossa comunicação tem como objetivo refletir sobre o modo como a figura e o mito de Nar- ciso são reaproveitados pelo autor até à sua reconstrução sob um modelo de visão do mundo finissecular. Partindo da imagem do duplo e do outro, em concomitância não só com a ideia da perda da unidade do sujeito preconizada por Stuart Hall, mas também com as teorias sobre o sujeito líquido defendidas por Zygmunt Bauman, daremos conta da representatividade e do alcance literários presentes no protagonista do romance.

Se, por um lado, é seguro afirmar que Dorian Gray é um eco do Narciso que se apaixona não pelo seu reflexo nas águas de um rio, mas antes pelas cores de um retrato, por outro lado não é menos verdade propor que o sujeito que jamais vê alterada a sua compleição física é espelho e reflexo de uma época que levou o eu ao seu egotismo e consequente esgotamento, como mais tarde Pessoa irá demonstrar de forma magistral.

Assim, a nossa comunicação desenvolver-se-á a partir das questões da crise da identidade através da revisitação do olhar de Narciso.

Publicado
2021-12-21
Secção
Olhares de Narciso: egotismo e alienação