Mundo apocalíptico: Daniel Paul Schreber

  • Natalia Luiza Carneiro Lopes Acioly Universidade de Varsóvia
  • Francisco Acioly de Lucena Neto Universidade Santiago de Compostela
Palavras-chave: Schreber, psicose, Deus, pai, fim do mundo, significante

Resumo

O médico de Schreber, o professor Flechsig, acreditava que seu paciente era um homem doente e irracional e que deveria ser abolido de seus direitos sociais. Schreber estava envolvido em uma atmosfera apocalíptica em que o mundo estava chegando ao fim e ele e Deus deveriam dar à luz a uma nova geração, mas não se considerava um homem insano. Além de seu sofrimento, tudo o que ele queria era um ‘remédio’ para melhorar, e mesmo se dermos uma olhada mais de perto nos escritos de Schreber (1903), podemos notar que durante sua doença, ele foi capaz de demonstrar muito alto conhecimento em literatura, religião, música e grego, por exemplo. Além de ser um notável juiz. Já que a questão da psicose ainda era desconhecida, os psicóticos eram vistos como seres que tinham olhares absurdos e logo, eram excluídos da sociedade e internados. No entanto, uma certa prudência pode ser detectada no comportamento de Schreber, se tomarmos como chave sua convicção de que Deus e o Apocalipse eram uma solução aceitável para seu problema. Schreber reorganizou (e liberou) seus desejos reprimidos – homossexualismo, narcisismo e megalomania – todos causados por problemas no relacionamento com o pai (problemas de instauração do Significante principal). Até entendermos melhor que Deus e o fim de mundo possa ser uma estratégia vital à solução na psicose de Schreber, devido à representação Super-Paterna e Apocalíptica, não entenderemos a questão maior da psicose. Apesar de ser um problema que ainda possa vir a não ter cura e embora os psicóticos vivam em um mundo diferente do nosso, eles não são pessoas com menos importância que as pessoas ‘normais’ (ou neuróticas, como é a nomenclatura psicanalítica preferível). Schreber nos aponta para uma ‘solução’ na tentativa de resolver os problemas de estabelecimento do significante do pai.

Referências

Allison, D. B. (1988). Psychosis and Sexual Identity: Towards a Post-Analytic View of the Schreber Case. State University of New York Press.

Barthes, R. (1977). Lecture in Inauguration of the Chair of Literary Semiolog. Collège de France, January 7, 1977 (pp. 31-44). Translated by Richard Howard, Oxford Literary.

Chabot, B. C. (1982). Freud on Schreber: Psychoanalytic Theory and the Critical Act. The University of Massachusetts Press.

Ekins, R. (1997). Male femaling: a grounded theory approach to cross-dressing and sex-changing. London & New York: Routledge.

Fink, B. (1997). A Clinical Introduction to Lacanian Psychoanalysis: Theory and Technique. Cambridge, Massachusetts: Harvard UP.

Fink, B. (1995). The Lacanian subject: Between language and jouissance. Princeton University Press.

Gibson, W. (1984). Neuromancer. New York: Ace.

Haraway, D. J. (1991). Simians, Cyborgs, and Women: The Reinvention of Nature. New York: Routledge

Lacan, J. (2002, 1957). On a question prior to any possible treatment of psychosis. Écrits: A selection. Translated by Bruce Fink. New York: Norton.

Miller, J. A. (2006) Matemas I. Translated to Portuguese by Sérgio Laia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

Milner, J. C. (2012, 1978). O Amor da Língua. Translated to Portuguese by Paulo Sérgio de Souza Jr. São Paulo: Editora Unicamp.

Schatzman, M. (1976). Soul Murder: Persecution in the Family, Penguin.

Schreber, D. P. (1955, 1903) Memoirs of my Nervous Illness. Translated by Ida MacAlpine & Richard A. Hunter, Wm. Dawson & Sons Ltd.

Sigmund, F. (1911). Psychoanalytic Notes Upon an Autobiographical Account of a Case of Paranoia (Dementia Paranoides). The Penguin Freud Library, vol 12, Standard Edition.

Soler, C. (2015). Lacanian affects: the function of affect in Lacan’s work. Ttranslated by Bruce Fink. – 1 Edition. Routledge Ed.

Publicado
2020-06-29