O Recado do Morro: profecia e redenção
Resumo
Inscrita no referente espacial da paisagem sertaneja, a narrativa ficcional de “O Recado do Morro”, de João Guimarães Rosa, fundamenta a sua articulação diegética no mitema nuclear da viagem.
A partir da circunstância concreta de uma deslocação, num indefenido “julho-agosto” (11), de uma comitiva de cinco homens (o guia pedestre Pedro Orósio, três patrões, seo Alquiste, Frei Sinfrão, e seo Jujuca do Açude, e o cavaleiro Ivo da Tia Merência), desde os “fundos do município”, em Cordisburgo, pelas coordenadas agrestes do sertão, o mote da travessia oferecerá pretexto para se poetar a íntima itinerância do homem pela cartografia mágica do retorno a si mesmo. Filtrado pelo ângulo subjectivíssimo da perspectivação narrativa, sobressairá neste enquadramento expressivo, pela intensidade da sua mensagem profética, a instância sobrenatural da voz do Morro das Garças; transmitida por uma galeria muito ampla de outros actantes dramáticos, numa sequência simbólica de sete ecos distorcivos, a ela cabe preparar projectivamente os momentos de progressão da intriga, e enunciar obliquamente os sinais do castigo e da redenção do herói.
A fundamentação simbólica do conto instaura-se sobre uma complexa rede de referências intertextuais, onde podem reconhecer-se muito ecos das tradições literárias greco-latina e bíblica. É, pois, a hermenêutica desses ecos poéticos que nos propomos fazer com esta comunicação.
Referências
Coutinho, E. F. (2006). Linguagem e revelação: Uma poética da busca. Eixo e a Roda – Revista de Literatura Brasileira, 12, 161-173.
Guimarães Rosa, J. & Bizarri, E. (1981). João Guimarães Rosa: correspondência com seu tradutor italiano Edoardo Bizzarri (2ª ed.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Guimarães Rosa, J. (1984). No Urubuquaquá, No Pinhém (7ª ed.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Coutinho, E. F. (Org.). (1991). Guimarães Rosa (2ª ed.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.