Inventar uma outra eternidade: leituras de Pentesileia em Vasco Graça Moura e Hélia Correia
Resumo
A tradição literária e artística ocidental foi particularmente despiciente no que toca à representação da épica batalha travada por Aquiles e Pentesileia, cuja representação não encontra lugar nos poemas homéricos. O mito desta amazona não constituiu alvo de nenhum texto dramático ou épico, ao contrário do que aconteceu com outras heroínas da tradição clássica, nomeadamente Medeia, Antígona e Helena.
Sendo raros os registos literários do mito (na Grécia arcaica, no Ciclo Épico, Etiópida; no século I a. C., por Diodoro Sículo e Apolodoro; pelo poeta épico Quinto de Esmirna, que viveu entre os séculos III e IV d. C.), o empenho pela sua revitalização tem-se mostrado particularmente escasso ao longo dos séculos. Neste sentido, torna-se pertinente notar o interesse que a batalha entre estes dois heróis gregos, Aquiles e Pentesileia, que põe tradicionalmente em relevo as fragilidades amorosas do rei dos mirmidões e as qualidades bélicas da amazona, suscitou em dois autores portugueses, Vasco Graça Moura e Hélia Correia.
Pretendemos, neste sentido, abordar as releituras do mito nas obras sombras com aquiles e pentesileia (1999), de Vasco Graça Moura, e na breve prosa Penthesiléa, retirada de um pequeno conjunto de textos intitulado Apodera-te de Mim (2002), de Hélia Correia, à luz da tradição clássica, compreendendo assim os contributos para o fortalecimento da presença de mitos clássicos na literatura portuguesa contemporânea.
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