Frankenstein, a construção de um mito moderno bem sucedido

  • Thiago Leonello Andreuzzi IEL, Unicamp
Palavras-chave: Frankenstein, Mito, Criação, Revolta, Wilderness, Estereótipos

Resumo

O presente estudo busca compreender a categorização de Frankenstein como um mito através dos postulados de Jean-Jacques Lacercle (Frankenstein: mito e filosofia) e de Joseph Campbell (O Poder do Mito). O monstro de Frankenstein, criatura sozinha no mundo, ora se identifica como o Adão – posta no mundo para o sofrimento –, ora com o Satã de Milton – embora mais miserável que este justamente por não ter companheiros (Frankenstein, Cp. XII). Por ser única no mundo, se constitui como uma falha na mitologia da criação (Lacercle), contudo se forma como figura prometeica, ao ir buscar na fonte de seu criador, a igualdade de sua raça para com a dele: desafia Victor e exige que lhe construa uma esposa. Além, promete: após ter sua esposa, fugirá para sua terra prometida, que aparece aqui transfigurada na forma da wilderness sulamericana: não é uma terra dócil, mas extremamente agressiva, que precisa ser domada – o que não seria um problema para o monstro, uma vez que é um ser muito mais potente que o ser humano. Enfim, enquanto Victor também encarna Prometeu ao buscar o “fogo” (a centelha à qual faz referência no capítulo V), também encarna a figura do criador, pois cria vida a partir do nada, acabando assim corrompendo o mito da Mãe-Terra – e a própria natureza –, arquétipo referido na cultura greco-latina como Gaia: não há um céu (Urano) pai e uma terra (Gaia) que dá à luz os seres cósmicos. É, portanto, se um mito de criação, um mito paternalista de rejeição da cria que exclui a figura materna de toda a cosmologia moderna, pois a obra é profundamente ateia, por mais que a criação de Victor ainda esteja envolta em mistérios, sem dúvida é fruto do conhecimento científico e alquímico nutrido pela figura do cientista natural.

Publicado
2019-04-16