A pampa argentina como cenário discursivo da terra prometida

  • Dogomar González Baldi Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Palavras-chave: Mito, Terra Prometida, Salvação, Transumância, Pampa, Argentina

Resumo

O mito da Terra Prometida permeia todas as culturas ancestrais do mundo e as acompanhou no constante processo de transumâncias. O presente trabalho tem por objetivo apresentar a pampa argentina como cenário identificável com a ideia ancestral da Terra Prometida. A pampa é um bioma da América do Sul que atinge uma superfície de quase 750 mil km2, ocupando a metade do território brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, todo o território do Uruguay e quase o 20 % da Argentina. Originou-se no fim do período cretáceo com a elevação da cordilheira dos Andes, pouco antes da extinção dos dinossauros. Desde suas origens, seu relevo apresentou alterações pouco significativas, e a partir dos últimos 12 mil anos, durante o Pleistoceno, foi o cenário da chegada dos primeiros povoadores que conviveram com os animais da megafauna local. Os descendentes destes paleoindígenas confrontaram a chegada dos espanhóis que procuravam ouro e riquezas naturais e o desejo de povoar um novo mundo. Séculos depois, consolidada a república Argentina após a sua independência e posterior fim dos seus conflitos internos, a pampa continuava um desafio. No último quarto do século XIX, o padre José Gabriel Brochero assumiu as necessidades de um povoado esquecido pelas autoridades, criando capelas, igrejas e escolas, enxergando a pampa como espaço ideal para reivindicar a restauração do Éden bíblico. As bondades do bioma forneciam as condições necessárias para obter uma segunda chance e aprender a viver em harmonia individual e coletiva com a natureza e com o seu Criador. Neste sentido, também um contingente de judeus vindos da Rússia por causa das perseguições antissemitas afinca-se na província de Entre Ríos. Assim pampa tornava-se uma segunda Terra Prometida, uma Nova Jerusalem, anunciada nas prédicas da sinagoga. Para defender o presente pressuposto, o ensaio conta com um referencial teórico a partir dos estudos de Mircea Eliade, Mikhail Bakthin, Gaston Bachelard e Ezequiel Martínez Estrada, conjuntamente com as considerações do seu autor.

Publicado
2019-04-16