Utopia e estatuto da poesia em poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen

  • Ana Maria F. Côrtes Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: Sophia Andresen, Literatura portuguesa, Literatura e religião, Utopia, Estatuto da poesia, Sagrado

Resumo

Este artigo discute a existência de uma dimensão utópica na poética da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, e o modo como essa dimensão se constitui, a partir da análise de poemas selecionados de diferentes momentos de sua obra poética. Em nosso estudo do corpus poético, partimos da hipótese de que a poesia de Andresen procura restabelecer a ligação entre o mundo e a esfera do sagrado, com base na palavra poética. A partir desse gesto criador que se dá na esfera poética e, também, no mundo que o eu-lírico dos poemas contempla e que lhe serve de referente, ele buscaria o encontro com o divino e a redenção que dele adviria. Esse encontro se daria em um tempo que não tem princípio nem fim e, nesse contexto, a própria poesia seria uma tentativa de alcançar, ainda que momentaneamente e, às vezes apenas como um desejo, a plenitude da união com a divindade. Subsistiria, na poética de Andresen, uma espécie de princípio esperança, uma crença na realização de seu projeto utópico, que é simultaneamente ético e estético, na medida em que ganha forma com base no encontro entre a realidade sensível e a transcendência, através da elocução poética. A poesia readquiriria, assim, em Andresen, seu estatuto de lugar sagrado, ao mesmo tempo em que o poeta apareceria como a figura capaz de surpreender e revelar, no mundo, os instantes da presença de Deus.

Publicado
2019-04-15