Ultraje, exílio e salvação: Filoctetes e José do Egipto

  • Ana Paula Pinto Universidade Católica Portuguesa/ CEFH

Resumo

A imagem de Filoctetes, sustentada nuclearmente pelo testemunho trágico de Sófocles, atravessa obsessivamente toda a Literatura Grega, no amplo arco temporal que vai desde a aurora original, com os Poemas Homéricos, ao ocaso, no séc. IX, com Fócio de Constantinopla. Arrastado do conforto da pátria pelo dever aristocrático de defender a honra dos pares, ferido pelos deuses e pela deslealdade dos companheiros, ele é obrigado a viver a condição excepcional de um exílio maior, que se confunde com a própria morte, isolado em Lemnos, até que sinais proféticos manifestem aos aqueus a exigência da sua pacificação e reintegração para a solução definitiva do conflito armado em Tróia.

Também na narrativa bíblica do Génesis (37 sqq), integrado numa história genealógica de traições familiares, a José, o filho preferido de Jacob, vítima do ressentimento dos irmãos, e forçado a assumir o exílio (simbolicamente vivido como orfandade e luto por ele e pela famíla), longe da casa e do amor paterno, caberá por desígnio divino a salvação dos que o ultrajaram. É, pois, no enquadramento de uma tipologia mítica comum, apoiada em mitemas afins (como o do ultraje e do exílio) e estruturas ficcionais similares, que nos propomos fazer a leitura simbólica do tema da culpa e da salvação presente em ambas as narrativas.

Publicado
2019-04-10