40 anos depois: a explosão de uma fábrica de produtos químicos que ainda afeta o ambiente

  • Emmanuele Fasola Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro, Museu História Natural de Milão, Departamento de Ciências da Vida, Universidade de Milão
  • Stefano Scali Museu História Natural de Milão
  • Marco Ferraguti Departmento de Ciências da Vida, Universidade de Milão
Palavras-chave: Dioxina, Hemogramas, Podarcis muralis, Disrupção endócrina, Imunologia

Resumo

No dia 10 de julho de 1976 a explosão da fábrica ICMESA, no norte da Itália, gerou uma nuvem tóxica composta principalmente por 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (2,3,7,8-TCDD). O vento transportou os subprodutos em direção a uma área de 18,1 km2, contaminando pelo menos nove cidades. Cinco dias depois, os animais começaram a morrer e as pessoas tiveram a sua pele queimada com reações alérgicas. Nos anos seguintes, a taxa de doenças crônicas e agudas (por exemplo, pulmonares, cardio-vasculares e dermatológicas), nas áreas afetadas, aumentou drasticamente. Após uma campanha para remediação do solo nas áreas mais afetadas, este foi removido e os níveis de dioxina baixaram com o passar do tempo. Mas as características da dioxina (alto Poct/água e alto t1/2 no solo) permitem a sua persistência quase indefinidamente no ambiente. Esta situação pode levar a dioxina a ser transferida para a biota em indivíduos com risco de bioacumulação e biomagnificação através da cadeia trófica. Para investigar se os níveis atuais de dioxinas no solo ainda poderão afetar a biota, uma análise morfológica e imunológica foi conduzida em lagartos da espécie Podarcis muralis. Esta espécie pode ser encontrada em quase todos os tipos de habitat, primitivos e poluídos, pelo que a amostragem de indivíduos realizou-se ao longo de um gradiente de aumento da distância desde o local da explosão. Hemogramas (contagem de leucócitos) permitem inferir sobre as condições imunológicas dos indivíduos, enquanto a morfologia dos caracteres sexuais secundários dos machos permitem inferir sobre os efeitos de disrupção endócrina. Estes foram mé-todos não-invasivos e não destrutivos, que produziram indiretamente, estimativas suficientemente fiáveis de efeitos de depressão do sistema imunológico ou disrupção endócrina. Estas últimas análises não detetaram qualquer diferença estatística entre as populações. Embora os resultados das análises morfológicas mostrassem que os lagartos machos que viviam junto do local afetado sofreram feminização dos caracteres sexuais secundários. Seja ou não devido à dioxina libertada, a disrupção endócrina é provável, mas ainda precisa ser comprovada por mais investigações.

Publicado
2016-01-01
Secção
Artigos