A Antígona de António Pedro: liberdades de uma glosa

  • Carlos Morais Universidade de Aveiro
Palavras-chave: António Pedro, Sófocle, Pirandello, dramaturgia portuguesa, recepção do teatro grego, Estado Novo, totalitarismo e liberdade

Resumo

Aproveitando a intemporal retórica de protesto que, no original sofocliano, ressalta dos conflitos que movimentam toda a acção, António Pedro (1909-1966) construiu uma Antígona de iniludível conteúdo político. Efectivamente, sob a "máscara grega", o dramaturgo português não só ocultou um abafado grito de revolta contra o totalitarismo do Estado Novo como ainda expressou subrepticiamente um desejo de justiça e de liberdade, procurando, assim, despertar as consciências e concitar o empenhamento cívico dos espectadores que, na década de cinquenta, cumplicemente comparticiparam nas representações desta sua glosa nova da Anii'gona de Sófiocles.
Mas, conforme tentámos demonstrar ainda, este "palimpsesto" não esgotou a sua capacidade inventiva na expressão deste sonho de liberdade. Outras liberdades de cariz estético, estrutural e funcional transparecem do confronto com o original, momente as que dizem respeito à construção de um prólogo didascálico e metateatral, de teor pirandelliano, à inclusão de novas personagens e à simplificação do Coro em termos de linguagem e do número de coreutas.

Publicado
2023-04-14