Serpens torquens: um tipo especial de hipérbato em latim

  • Carlos de Miguel Mora Universidade de Aveiro

Resumo

Após a revisão do tratamento que a figura do hipérbato mereceu desde a Antiguidade até aos nossos dias, podemos constatar que os comentadores que abordaram a sua análise o fizeram sempre da perspectiva de três critérios diferentes: um exclusivamente retórico, outro morfossintáctico e um terceiro estilístico. Se os dois primeiros permitem uma classificação até a um certo ponto fechada dos tipos da dita figura, resulta porém claro que o terceiro só pode ser descritivo dos efeitos de estilo produzidos em cada ocorrência, e que só permitirá uma classificação enquanto esta seja aberta. No seguimento deste critério e com o apoio de algumas considerações efectuadas pelos poetólogos renascentistas a propósito da dispositio, pode-se conjecturar a existência de um tipo de hipérbato especializado que seja para esta figura o que a onomatopeia é para a aliteração, isto é, que permita a representação sensível do conteúdo por meio da forma. Alguns exemplos tirados do Culex da Appendix Vergiliana e da Pharsalia de Lucano demonstram que este tipo especializado de hipérbato existe realmente na literatura latina.
Publicado
2000-01-01
Secção
Artigos